Hoje não se anda. Corre-se. Não se saboreia. Engole-se. Não
se vê. Olha-se. Não se procura. Não é preciso. Defendo a vida pelos sentidos, mas hoje venho falar do excesso de estímulos. Somos sensorialmente bombardeados
e a máquina que aguente! É a estimulação inconsciente, a estimulação desligada
que me preocupa. Ocupa-nos tanto espaço que corremos o risco de perder o
essencial em prol do acessório. A multi-estimulação é barulhenta e não nos
permite de facto sentir nada em concreto de tão abstracta, mas é na abstracção
que penso estar a resposta. Quando tento dessensibilizar-me, encontro-me com os
meus pensamentos e sentimentos e encontro tão somente um espelho de tudo o que
vivo quando me afasto deles: correria, inquietação, ritmo, barulho. Não digo
que desgoste da vida agitada – gosto da vida a palpitar - mas digo que o nosso
mundo interior reflecte o exterior e vice-versa. Ontem peguei num livro antes
de dormir e pensei “Que silêncio!” Por que é que sinto um livro como silêncio e
o computador como barulho? Que estímulos vos evocam a paz e que estímulos vos
evocam o ruído?
Creio que o estímulo que conduz à paz é aquele que permite
contemplação. E a contemplação requer tempo. E a contemplação requer espaço. E
a contemplação requer amor. Tão pouco é necessário assim tanto tempo ou assim
tanto espaço ou um amor devoto. 5 minutos para dar e receber. Espaço interior. E amor-próprio. E a vida não
nos escapa. Acontece.
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