Este tema visitou-me três vezes a semana passada, em conversas e contextos diferentes. O Karma. É um tipo ainda pior do que o cancro, porque se este me largou, o outro não me larga!
O Karma parece castigo, pelo menos é com essa energia que falamos nele. É uma espécie de justiça divina. Também pode visto como uma escolha, a de criar uma oportunidade de resolver e de fazer diferente.
Acredito que tudo o que lançamos para o universo volta para nós, de bom e de mau, mas também acredito que quem tem bom fundo e boa índole, sobretudo numa sociedade judaico-cristã, que premeia e castiga, se vá pôr a jeito de ser castigado quando a consciência lhe pesa. Quem se porta mal não merece coisas boas e esta crença de "não merecimento", de não ser bom o suficiente, leva mesmo a comportamentos que vão levar ao sofrimento merecido. Fiz merda, agora tenho de pagar por isso. É uma espécie de um ato de contrição que assume a proporção do mal de cada pecado. Pior ainda quando se assume culpas que não são do próprio... Mas isto dava outro post...
Às pessoas que me magoaram, desejo que o universo lhes mostre o caminho que as faça tomar consciência do que fizeram, mas desejo sobretudo que aprendam a fazer diferente porque é por isso que as coisas voltam de alguma maneira, não propriamente comigo, mas sobretudo consigo mesmo e com as pessoas das suas vidas. Relativamente às pessoas que deixei triste, vejo-as nos olhos das pessoas que hoje me fazem o mesmo a mim, mesmo sem o saberem.
Por que tudo volta? Porque funcionamos em espelho. Porque é através dos outros que temos a oportunidade de nos conhecermos a nós mesmos, de percebermos onde estamos, porque é através do privilégio e da ousadia de entrar na vida de alguém que podemos fazer tudo melhor do que antes.
Quando alguma coisa muda em nós, significa que já resolvemos alguma coisa "kármica". Às vezes o perdão está mesmo só na permissão para ser diferente e de experimentar conhecer outras partes em nós. Outras vezes mora num pedido de desculpas. Noutras em sentir que o outro nos absolveu de alguma forma. Noutras numa tentativa de reparação de um passado que já não volta. Noutras em aceitar e deixar ir.
O Karma que vem de vidas passadas não me atrai nem me fascina particularmente, porque, porra, já tenho material suficiente nesta vida para me entreter! A boa notícia é que as coisas boas também voltam todas para nós, em forma de gestos, pessoas, oportunidades, situações, o que não quer dizer que voltem exatamente da pessoa, do sítio e no momento que queremos. Às vezes demora. Às vezes é inesperado. Às vezes não vem dali, vem de acolá. Às vezes não é agora, é amanhã. Às vezes já lá está.
Todas as vezes essa energia kármica nos ensina a confiar: merecemos sempre as oportunidades que nos surgem porque se tratará sempre de alguma coisa nossa que volta para nós.
Ainda tenho muita coisa para perdoar, nos outros e em mim. O cancro não me veio como um "Pai Nosso", liberta-me de todo o mal, amén! Sei que não perdoar perpetua o sofrimento; sei que, na maior parte das vezes, é uma parvoíce (#voualiserfeliz) e sei que é tudo muito mais fácil se finalmente deixarmos ir, para podermos deixar vir. Talvez não nos percamos, talvez finalmente nos encontremos. Talvez. Não se sabe. Nunca se vai saber. Nunca se vai saber sem tentar.
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you come and go
you come and go
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