Quando comecei este projeto foi com o intuito de partilhar as ações que levasse a cabo e aquelas em que me envolvesse e fizessem parte do meu caminho de cura (ou curação como lhe chamo, traduzido do espanhol curación). Hoje partilho mais um momento de inspiração, o do projeto Change It. Porque a minha cura tem estado centrada no pensamento desde que terminei os tratamentos (não me digam que não fiz mais NADA porque dá muito mais trabalho do que injetar fármacos!). E porque o pensamento precisa de alimento regular, para não recuar para padrões antigos. Eu inspiro, tu inspiras, eles inspiram-me. Grata por isso.
Hoje (30/01) realizou-se o terceiro Change It, autoria e moderação de Ana Rita Clara. Foi o primeiro a que assisti e só ontem à noite senti que tinha mesmo de ir. Porque os vídeos dos anteriores me "chamaram" e porque, antes de dormir, visitei a página do facebook da Débora, uma jovem que também tem cancro, e deparei-me com a citação de uma frase minha, que ela retirou aqui do blog e da qual não me recordava. Dizia assim:
Risco por risco, resolvi não me riscar e arriscar-me a seguir o meu caminho.
E qual o tema do Change It de hoje? CORAGEM. E lá fui eu. Dar e receber.
Porque é preciso ter coragem para sermos quem somos e não o que esperam de nós (mas atenção que os valores familiares, religiosos, educativos, políticos e médicos formatam-nos para seguirmos ordens e dizem-nos que o poder está nos outros, por isso muitas vezes é preciso um trabalho de consciência e desconstrução que preceda e valide a coragem). E porque é arriscado seguir o que pensamos e queremos, mas ainda é mais arriscado não o fazer. Falo por mim (sempre). Risco por risco, vai aonde te leva o coração, como dizia a autora Susana Tammaro.
Cheguei uma hora atrasada, fui gastando o plafond da coragem no trânsito mas valeu a pena. Vim recarregada.
Podem ver o resumo no site da Ana Rita, uma profissional com uma capacidade de empatia, abstração e síntese ímpar. Os tempos da televisão não nos permitem muitas vezes sentir isto. Aliás, os tempos da vida de hoje também não nos deixam muitas vezes sentir nada.
Tempos reinventados por projetos como o Change It são tempos (e espaços) para parar, refletir, partilhar e questionar, sem hierarquias, no café do lado. Não estamos sozinhos nisto do medo. Não estamos sozinhos nisto da coragem.
Foram muitos os contributos, todos especiais. A jornalista Fernanda Freitas, o escritor José Eduardo Agualusa, a psicóloga Isabel Empis e Marie France Carrondo foram os oradores ou changers convidados. Foram também muitas as frases-chave mas duas ficaram a vibrar dentro de mim:
Quem muda Deus ajuda. (Fernanda Freitas)
Não há geografia para a coragem. (Ana Rita Clara)
Quero acrescentar sobre a coragem em situações para as quais achamos não estar desenhados para ter força, até porque referiram a Vanessa Afonso na conversa e porque hoje ouvi o testemunho do Jorge Pina na televisão, dois exemplos públicos de coragem. Partindo da minha experiência em tempos surreais de dor e do que vejo refletido nos outros:
A coragem é talvez a única forma que temos de sobreviver quando o chão nos foge e o teto desaba, a única forma de fugir de uma vida miserável. Numa situação limite, não ter coragem é deixar morrer o espírito. A coragem é assim a modos que um anjo da guarda (aquele que protege a nossa alma de noite e de dia).
P.S. Não acho que tenha sido por acaso que as mulheres tenham dominado a intervenção. O tema é a coragem mas o pano de fundo a mudança. Quem melhor para falar em mudança do que a mulher, uma vez que a mudança é inerente à sua natureza cíclica? Quem melhor do que a mulher para resgatar a sua natureza colaborativa e facilitadora dos tempos pré-patriarcais substituídos pela hierarquia e a competição de uma sociedade dominada por valores masculinos? Quem melhor do que a mulher para ajudar o homem a recuperar a permissão para a sensibilidade e o feminino? Estamos em conjunto a equilibrar o mundo, o mundo em cada um de nós, que somos Animus e Anima (Jung), Yin e Yang, e o mundo em cada um do outro. Todos juntos fazemos um: Uni-verso.
Grata.
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