Quis escrever quando se deu a tragédia de Pedrógão Grande. Quis escrever e escrevi mas não publiquei. Esperei. Sabia que era apenas o início do Verão, a estação que tanto aguardamos nos meses de Inverno. Será justo transformar o Verão num Inferno? Que todos os fogos nas terras se extingam, que todos os fogos dentro de nós nos transformem, que não haja mais más sortes... que Verão é de mergulho, não de entulho...
Como o fogo que arde para acordar a vida
Agora sentida, sofrida na maior das medidas
A morte, que sorte
Arde que queima, sem dó ou piedade
Qual idade? Caminho torpe
Que caminho?
Feridas, rasgões, roubados tantos corações
Arde que bate a vida que continua
Ninguém se lembrou de a parar
A tua
Posso voltar?
Atrás, tempo, que lento...
Não faz sentido que tenham partido
Ido, morrido, desaparecido
Ainda cá estão, eles ainda cá estão
Ainda cá estou? Diz-me que não.
Que horror este terror
Talvez estejamos vivos
Talvez.
Pensamento lento
Leva-me, vento
Talvez nos mantenhamos vivos.
Talvez.
Mas ficam os porquês.