"Insecurity is the result of trying to be secure." (Allan Watts)
Há duas fases na vida em que eu sinto que a necessidade de perdoar surge com mais força - ou, simplesmente, surge: quando está tudo bem e quando está tudo mal! (Quando temos esta percepção porque, na prática, o bem e o mal coexistem.)
Talvez por isso seja mais genuíno quando está tudo, não "mais ou menos", mas mais e menos, sem grandes epifanias. O mais e menos não vem do desespero dos dias infernais nem do estado de graça dos dias paradisíacos; vem da normalidade que apazigua com momentos que destabilizam para nos pôr a mexer. O mais e menos não é "mais ou menos", "nem sim nem sopas", "é indiferente"...
Quando as coisas me correm mal, confesso que sinto que não perdoar é uma verdadeira perda de energia, indiretamente uma perda também de muitas outras coisas que são contaminadas pela falta dessa energia: tempo, saúde, dinheiro, amor... É o mesmo que ficar com o carro atascado numa terra de mágoas.
Quando as coisas correm bem, vive-se, não se quer saber de merdas. Pronto.
Posto isto, não se resolve nada na urgência. A vida requer paciência. Tenho percebido a importância de dormir desde que desaprendi de dormir. O tempo de dormir é o tempo em que tudo centrifuga por si só. Nem é preciso ir ao estendal que a roupinha já vem seca! Como nova!
Roupa suja é o que fica quando não se cumpre o ciclo da noite e do dia. E há o ímpeto de esvaziar, de fugir, de encarar, de resolver, de libertar, de entender, de controlar, de explicar... "Eles não sabem o que fazem...", dizia Jesus na cruz. É isso que eu sinto muitas vezes: não sei muito do que faço.
Podia ter escolhido para parafrasear o "Sei lá..." da Margarida Rebelo Pinto ou o Sócrates do "Só sei que nada sei.", mas não tinha a parte do "Perdoa-lhes (nos), Senhor..." que é a mais relevante na frase da cruz. Ontem telefonou-me a psicóloga da Liga Portuguesa Contra o Cancro e pergunta-me "É a Ana Rita Cruz??" Não, não sou a Ana Rita Cruz... mas parece! É impressão minha ou sou eu que ando mesmo CARREGADA?
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