Hoje em dia somos incutidos a vibrar na melhor versão de nós próprios, a sermos essa versão, procurando ser cada dia melhores. Eu também reclamo essa busca. Mas, como em muitas outras coisas, é como diz o Miguel Sousa Tavares, no título do seu livro: "Não se encontra o que se procura." E tantas vezes o que se procura é exactamente o que nos escapa pelas mãos, incessantemente, de tanta força e pouco jeito. De tanto esforço e nenhuma naturalidade.
Nada contra ser melhor ou melhorar - muito pelo contrário - mas eu diria que procurar ser melhor também pode significar, tantas vezes, deixar de Ser. Esta semana discutiu-se muito as trombas da Inês Castel-Branco nos Globos de Ouro. Não vou comentar o momento em si porque não vi ou não reparei, mas posso dizer, à partida, que foi o meu vestido preferido daquela gala. O que tem isso a ver? Para o que quero dizer, nada. Mas, independentemente da situação, eu acho que aguentamos muito pouco as trombas uns dos outros - era aí que eu queria chegar! E eu sou uma das que se passa com trombas nas pessoas que trabalham no atendimento ao público, por exemplo, mas também porque faço um esforço - lá está o esforço - para os outros não levarem com as minhas próprias trombas, que guardo para as pessoas especiais.
Claro que um sorriso não paga imposto e pode abrir portas, de dentro para fora e de fora para dentro. Mas quem é que faz ideia do que se passa na vida e no coração de uma pessoa que não está a sorrir ou que não está no seu melhor? Como saber que a pessoa não está no seu melhor, naquele momento? Por que pode uma cara (mais) feia ferir tantas susceptibilidades?
E se aquela pessoa não esteve no seu melhor? E se aquela pessoa teve apenas um momento verdadeiro? E se aquela pessoa estiver mesmo no seu melhor, naquele momento? E se o nosso melhor nunca assumir termos absolutos, mas sim relativos - ao contexto, ao momento, a mil e um factores que não são tangíveis para os outros?
Não acho que tenhamos de entender as trombas de meio mundo nem que tenhamos de levar com elas, mas pergunto: Como seria este mundo se caíssem as máscaras?
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