segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Grey Area


(fonte: Google)

'Bora lá falar das sombras do Christian Grey...
 
Porquê? Para seguir a tendência? Não só, mas também. Simplesmente porque os livros vieram parar-me à mão (2013) ainda eu não sonhava com sexo depois do cancro! Sonhar, se calhar, até sonhava, mas imaginem um corpo virado do avesso, que, depois de ter passado pelas fraldas e pelo biberon pela veia, só pedia liberdade, mas tinha todo um caminho pela frente... desejado mas temido, com a coragem ao lado do medo e a expetativa ao lado do pânico.
 
Foi outra companheira do cancro que me passou o entusiasmo. Também ela em tratamentos, solteira e sem mouro na costa, não desgrudava do(s) livro(s)! Abri ao calhas e li uma ou outra cena de sexo - é natural que abrindo ao acaso, isso aconteça, porque, afinal de contas, ocupa a maior parte das centenas de páginas dos três volumes. Ok, vamos lá ler o livro!
 
Bom, consegui, a algum custo e com alguma ambivalência, ler dois dos três livros! Foi a curiosidade pela continuidade do relacionamento da Anastasia e do Christian que me fez ir ao segundo e, sobretudo, a história por detrás da personalidade dele - as ditas sombras! O terceiro tentei mas já não deu.
 
Encaro este romance como uma fantasia, uma menina/mulher frágil conquista um homem poderoso. Se ela consegue, todas conseguimos um Grey para as nossas vidas! (Se queremos, é outro assunto!) E com uma vida sexual de sonho! Não falo da sala vermelha - que também apela a muitas fantasias e leva muita gente às salas de cinema, convenhamos - mas de uma mulher virgem que tem uma primeira vez fantástica, tem a libido no auge e a toda a hora (independente do dia de trabalho, do estado do relacionamento e dos (des)entendimentos e preocupações) e tem orgasmos de geração espontânea, quase só de olhar para ele! E sempre. Frequência semanal de relações sexuais? Melhor perguntar pela frequência diária...
 
Talvez tenha sido esta sexualidade tão linear - leia-se frequente, porque linearidade talvez não combine com algemas - de sonho para uns, pesadelo para outros, página sim, página sim, que acabou por me desinteressar. Se calhar precisava de sentir um bocadinho mais de realidade dentro da ficção, de conseguir identificar-me com a Anastasia... Não sei se defeito meu ou dela, achei os livros uma seca! (Sim, eu sei, li dois! E de secos eles não tinham nada, passo a piada brejeira...)
 
E chegamos ao filme, eu prontíssima para entrar na fantasia... Pela primeira vez posso dizer que gostei mais de um filme do que do livro! Considero uma vantagem ver o filme conhecendo as linhas que não estão representadas e que estão descritas no livro; talvez lhe imprima mais conteúdo do que o filme tem por si só. Mas como o livro para mim se alonga demasiado, adorei o filme, que vem equilibrar os dois lados, o sexo e as pessoas por detrás do sexo. E tudo com muito bom gosto e sofisticação. Música, iluminação, direção...
 
Não me parece que o filme incite à violência, que reforce a vulnerabilidade do sexo feminino ou que desprestigie as mulheres ou os homens de alguma forma. Temos Mr. Grey e Miss Steele, mas sobretudo o Christian e a Anastasia, com uma profundidade que os torna interessantes, com uma fragilidade que os torna humanos. Temos um Grey dominador que se vai deixando dominar e uma Ana que se quer submissa mas que quase nunca se submete. É no meio que se vão encontrando e o amor vai acontecendo; é de resto esse amor que vai permitindo que sigam os dois viagem num jogo de luz e de sombras que nos envolve. Até ao limite. Ana. Christian. E a porta fecha-se.
 
Imagino que a sequela só surja daqui a um ano e que o plano de marketing faça render o peixe por dois ou três anos. Não sei em que fase estarei na minha curação relativamente a estes assuntos quando o próximo filme chegar, mas a verdade é que um filme, por mais leve que seja (não é filme para ser nomeado para melhores atores ou melhor argumento), pode tocar em muitos pontos sensíveis - daí a polémica! A, B, C ou G, isso agora já fica ao critério de cada um/a!
 
 
 


2 comentários:

  1. Os livros não li, não tive curiosidade, mas fui ver o filme com a minha filha e gostei! Talvez por tudo o que descreveu, e talvez pela mensagem que captei nos meus 56 anos. Submissão por contrato, por presentes, sim. Mas nunca por amor. Ela apaixonou-se, quis o limite, mas depois fechou a porta.

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  2. O mais importante se calhar é sabermos que temos a liberdade de escolher abrir e fechar portas, entrar e sair, ir ou ficar. Há sempre mais janelas para a vida :) um beijinho

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