A todo o tempo fazemos escolhas. Pomos o despertador, calculamos o tempo de que necessitamos para sair de casa de manhã, escolhemos o que vamos comer, o que vestir, eventualmente o caminho que vamos fazer para chegar ao destino... A vida é uma sequência de escolhas, decisões que tomamos ao sermos quem somos, em determinado momento, num determinado contexto. Mudasse uma peça do puzzle e o puzzle seria outro. Essa é a responsabilidade que temos. E o poder também.
A primeira pergunta que me fiz quando me vi na cama 7 do piso de hematologia do IPO de Lisboa, onde passei a fase mais bizarra da minha vida (provavelmente a seguir à incubadora, mas dessa não me lembro), foi: "Rita, em que momento da tua vida decidiste passar por isto? Que escolhas fizeste que te conduziram até aqui?"
As respostas vieram (e continuam a vir!) durante os meses seguintes no muito tempo que tive para pensar, sentir e escolher - até os pensamentos se podem escolher ou, pelo menos, o que fazer com eles! Digo sempre que as respostas não são importantes. Importantes são as perguntas! A resposta vai chegando, sob várias formas que nos revelam o conteúdo.
Segunda-feira começou atribulada por conta da greve dos revisores da CP. Não vou dizer mal dos senhores porque não estou no seu lugar e prezo o direito à greve, que não teria qualquer efeito se não afectasse uma catrefada de gente em cadeia. Desde não conseguir chegar ao trabalho a horas - depois de esperar por dois comboios sem sucesso e picar o bilhete para o Cais do Sodré - a esquecer-me de pôr gasolina depois de ter feito o pré-pagamento e ter de voltar atrás, esperar (im)pacientemente que o senhor que parou à minha frente nas portagens encontrasse a carteira, ouvir a senhora das portagens a maldizer o dito senhor, olhar para o painel na A5 que dava conta de um acidente a 5km... E nada isto teria importância se não tivesse crescido uma boa dose de ansiedade e irritação dentro de mim, que só queria que o meu dia e a minha semana começassem bem.
Olhei para fora e vi que estava um sol fantástico, depois de um domingo mega chuvoso. Senti-me na verdade grata pelo dia lindo que estava. Eu estava com pressa, o senhor sem carteira provavelmente desorientado, a senhora das portagens irritada e eu, ficando furiosa com ela, ia chegar ao pé do meu aluno (pt de Pilates) a lamentar-me da vida e ele ainda tinha de levar com o meu stress depois de ter levado com o meu atraso. Ao observar todas estas reacções em cadeia, decidi que o meu dia ia correr bem e que estava nas minhas mãos, e não nos obstáculos que encontrasse, que corresse bem .
Desejei um bom dia à senhora das portagens, sorri ao dia fantástico que a natureza me oferecia e foquei-me nas pessoas com quem trabalhei. Posso agradecer aos senhores revisores o almoço na esplanada em Belém, com um sol que me aqueceu a alma. Se não tivesse levado o carro para Lisboa, não teria agarrado no carro e ido para Belém no intervalo de almoço para não pagar um dia inteiro de estacionamento no Chiado. Foi um dia mais caro mas posso dizer que o dia correu bem e a semana começou da melhor maneira. Porque escolhi que ia ser assim. Se não tivesse carro ou não conseguisse ir trabalhar, também o dia teria trazido outras oportunidades, ainda que sem rendimentos. Tivesse eu feito outra escolha e o dia teria sido vivido de forma diferente.
Sei que a vida não me põe nada à frente que não esteja a precisar de enfrentar e que não esteja ao meu alcance encarar. Sei que está tudo bem. E é nas pequenas coisas que está o segredo para os grandes desafios, grandes desafios que encerram o segredo para darmos valor às mais pequenas coisas.
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